A Pluralidade dos Paradigmas na Sociologia

Tempo de leitura: 6 minutos

Você começa a faculdade de sociologia e está um pouco perdido com as teorias e paradigmas sociológicos? Um sociologo pensa de uma maneira e outro pensa de uma maneira completamente diferente? Então, em quem você tem que acreditar? Se você ja se perguntou isso ou se você tem estas dúvidas, este artigo é para você. Eu tive estas mesmas perguntas, porém, depois de 7 anos de sociologia, posso te ajudar. Primeiro, vou te explicar, sem entrar em detalhes, os paradigmas mais famosos na sociologia, e depois disso, vou deixar claro qual postura você deve adotar frente a esta pluralidade de paradigmas.

 

Antes de tudo, devemos entender o que é um paradigma.

Para Thomas Kuhn, um paradigma é um conjunto de conceitos, de métodos, de exemplos significativos,  de problemáticas, que servem de modelo para o trabalho de pesquisadores. A escolha do paradigma pelo sociólogo, depende muito da corrente que seguiu tal pesquisador. O paradigma pode se comparar ao conceito da “teoria”. Existem os paradigmas de Durkheim, de Marx, de Weber. Na verdade, por exemplo, quando falamos do paradigma Durkheim, podemos assim falar da teoria da integração, da divisão do trabalho ou da teoria do desvio.

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Na sociologia, sempre irão existir debates entre os paradigmas dos sociólogos. Os sociólogos são realmente muito fortes para criticar os outros! Na verdade, na sociologia, comparada às ciêncas da natureza, é muito difícil ter só um ponto de vista sobre um fenômeno social. Os sociólogos são indivíduos da sociedade, então, são sujeitos, e em mesmo tempo, os objetos dos estudos. Além disso, a interpretação dos fenômenos sociais é guiada pelos seus próprios valores. A objetividade do sociólogo é uma pergunta sempre presente.

 

Porém, uma coisa certa na sociologia é que, para responder às perguntas nos debates e entender os fenômenos sociais, uma coisa realmente importante é também fazer os seus próprios questionamentos quando ainda não se tem as respostas. A sociologia é uma ciência que procura respostas, e para tê-las, são necessárias as perguntas. Esta ciência tem como objetivos: conhecer, comprender e explicar a realidade social. E, para tentar realizar isso, existe uma pluralidade de paradigmas.

 

Os paradigmas mais famosos

 

Então, na sociologia, uma característica muito peculiar é a multiplicidade de paradigmas. Para entender a variedade da sociologia, é importante compreendê-los. A sociologia americana começou no início do século XX. Vou apresentar 5 correntes famosas na sociologia americana.

 

A primeira escola de Chicago foi o primeiro departamento de sociologia dirigido por A. Small, Park, Thomas. Os sociólogos muito famosos frequentavam este departamento. Esta escola estudava a comunidade ligada às transformações espaciais que conheceu a cidade de Chicago. Em 40 anos, a população se multiplicou por quatro, e os sociólogos queriam compreender como seria possível a tanta gente conviver em conjunto.

 

– O culturalismo é uma corrente que chega da antropologia americana. Ele nasceu nos anos 30. Este tipo de sociologia é ligado principalmente à historia do país. Na verdade, o culturalismo estuda as culturas como conjuntos próprios a cada cultura. Os conceitos de “personalidade dos indivíduos”, das “instituições de socialização” e da “aculturação”, são primordiais neste paradigma. Os autores mais famosos neste contexto são Ruth Benedict, Margaret Mead, Abram Kardiner e Ralph Linton.

 

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– O funcionalismo nasceu nos anos 40. Aqui, os sociólogos privilegiam o funcionamento da estrutura social. Segundo eles, a sociedade é um conjunto de elementos interdependentes em uma lógica global. Merton utiliza este paradigma. E, é principalmente ele que desenvolve os conceitos de “estatuto” e “papel”. Aqui, a metodologia quantitativa começa a ser muito presente.

 

– O interacionismo simbólico, é dizer, a segunda Escola de Chicago, nasceu nos anos 60. Aqui, a ideia é o fato que os indivíduos produzem os fatos sociais (oposição às ideias de Émile Durkheim). Com as interações sociais, o indivíduo produz ele mesmo a sua própria identidade. Segundo eles, os sociólogos têm de ir ao lugar eles mesmos para realizar a investigação. Se eu estudo as “relações sociais durante o Carnaval do Rio de Janeiro”, tenho de ir lá para ver, escutar, perguntar, mas, sobretudo, analisar como os acontecimentos ocorrem.

 

– A etnometodologia nasceu nos anos 60. Este paradigma foi criado por Harold Garfinkel, nos Estados Unidos. É uma corrente que estuda os procedimentos pelos quais os atores constróem a via das situações. O fato social, neste contexto, é um cumprimento prático, sempre dependente de um contexto.

 

 

Assim, você pode ver que existem numerosos paradigmas na sociologia. Além disso, existem muitos outros que nós não presenciamos aqui, tal como o estruturalismo genético, o individualismo metodológico, etc.

 

Se você está nos primeiros anos de graduação, os professores não vão requerer que você tenha já, a sua própria opinião. Então, para começar a sociologia, você tem, só, que começar a entender os diferentes pontos de vista. E, pouco a pouco, também em função das opiniões dos seus professores, você irá se sentir mais próximo (ou mais longe) de um ou de um outro paradigma. Você vai saber quais são os seus preferidos com o passar dos anos de estudo, de maneira natural. Então, para os iniciantes na sociologia, podem ficar tranquilos!

 

Aos estudantes que não são iniciantes, vocês deveriam começar a saber qual deles você mais se identifica. Se você ainda não sabe, pode se perguntar quais são as leituras que você gosta mais. Isso, vai te ajudar.

 

Para tomar um exemplo mais concreto, vou falar da minha situação. Por exemplo, eu venho da Universidade de Bordeaux (França), onde os professores concordam principalmente com as ideias de Émile Durkheim, porque ele foi professor lá. Porém, com o tempo, não concordei realmente com ele e, hoje, me sinto mais perto do interacionismo simbólico. Acho que para comprender um fenômeno social, você tem de olhar as interações sociais. Cheguei a esta conclusão com a metodologia própria deste paradigma e graças às leituras que fiz de Erving Goffman (link), por exemplo.

 

Mas isto é só minha opinão.

 

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Uma última coisa, um conselho… Na aula de sociologia, é melhor se você conseguir ver qual paradigma prefere o seu professor. Se ele fala muito de Howard. S . Becker, por exemplo, melhor utilizar os conceitos deste sociólogo para a prova final ou ter cuidado quando você falar com um sociólogo que não reproduz as mesmas ideias dele.

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Sobre Léa Mougeolle

Me chamo Léa Mougeolle e sou uma socióloga francesa que adora escrever e estudar sobre o Brasil. Me graduei na universidade de Bordeaux e finalizei meu mestrado em Paris, na universidade La Sorbonne Nouvelle. É um prazer poder compartilhar conhecimento com você!

  • Sossandje José da Piedade

    Ok. gostei do artigo.

    É de salientar que a problematica dos paradigmas, tem sido uma questão que muito inquieta os estudantes de Sociologia. ,Mas com uma boa leitura dos varios classicos que muito contribuiram para este ramo do saber, cada um poderá escollher a linha que vai seguir para desenvolver as suas actividades enquanto Sociologo (a) .

    Obrigado festas felizes para você .joyeuses fêtes..

    • Léa Mougeolle

      Obrigada Sossandje e festas felizes (Joyeuses fêtes) para você também.

  • José Rubens de Brito Filho

    artigo prático, pedagógico e pontual para os estudantes de sociologia.

  • Viviane Müller

    Obrigada, muito legal o texto! De grande ajuda e esclarecimento!

  • Valdir Estrela

    A princípio o texto é bem didático para um cientista social inciante. Porém, no decorrer deste, acaba se transformando num macete de como o estudante agradar o professor da disciplina elogiando o teórico preferido deste apenas para ficar bem na fita. Melhor, na minha opinião, que o estudante se dedique ao estudo da área de conhecimento que escolheu, leia e reflita sobre todos os paradigmas sem pré-conceitos e se torne assim capaz de construir sua própria autonomia teórica independente da concepção docente. Pode ser que dessa forma ele tenha alguns embates e contratempos com algum docente autoritário, autosuficiente mas em compensação ele será um cientista social e cidadão mais seguro do que pensa e do que quer para a realidade social. De qualquer forma, parabéns pelo artigo, colega. Axé!

  • Rangel Getner

    muito bom seus textos. continue assim nessa força, e não desista !!!!

    • Léa Mougeolle

      Obrigada Rangel!

  • Osvaldo Junior

    Acho interessante a abordagem que a Escola de Frankfurt faz sobre a sociedade, o modo como a cultura de massa é um reflexo de como o capitalismo mercantiliza todos os aspectos da vida humana em sociedade. As reflexões de Zygmunt Bauman sobre nossa sociedade globalizada também considero muito interessantes.

  • Pedro Costa

    Numa clara situação de iniciante, estes são os caminhos que levam a uma orientação mais cuidada, quase um alerta para as questões que se começam a cruzar nas nossas opiniões. A cada capitulo de varios autores tendem os nosso pensamentos iniciais da nossa formatação sociologa, de enquadrar o que estamas a aprender como o que estamos a suportar nas nossas escolhas, nas afinidades a seguir nesta ciência que é fascinante. Obrigada Leo este texto é uma aula.