Meu trabalho nas “favelas” da França!

Tempo de leitura: 3 minutos

Olá! Faz tempo que não escrevo para o site e esta manhã acordei com vontade de dar noticias para vocês! Na verdade, comecei a trabalhar em um novo projeto e, por conta disso, tenho menos tempo do que antes. Porém, hoje, vou explicar para vocês meu trabalho porque acho que isso não existe no Brasil. Sei que existem leitores da Angola e seria interessante ter a opinião de vocês também. Pode deixar comentários abaixo caso queira contar um pouco sobre como funciona no seu país ou simplesmente se você quiser se exprimir.

Para as pessoas que não sabem, tive a sorte de fazer minha tese sobre as relações amorosas nas favelas do Rio de Janeiro e, principalmente, na favela Cantagalo. (Falo de sorte porque encontrei pessoas que me proporcionaram muito crescimento pessoal/profissional e, sem elas, não seria quem sou hoje.)

Então, antes de conhecer os bairros paupérrimos da França, conheci os do Brasil, no Rio de Janeiro e em Salvador. Há algumas semelhanças entre estes bairros da França e os do Brasil. Por exemplo, são áreas onde a violência é mais presente, o tráfico de drogas também. São zonas onde há um número maior de desempregados, pessoas com poucas qualificações, aonde a solidariedade é mais presente… Na França, esses bairros são “predios altos” (como os da foto abaixo). A violência é muito mais baixa que no Brasil, com certeza, mas existe também, principalmente nas cidades de Paris e Marseille. No Brasil, falamos de “favela”, na França falamos de “cité”.

bairros pobres franceses
bairros pobres franceses

 

Hoje, o problema na França é que (para falar simplesmente), os ricos moram de um lado, e os pobres de outro. Existe o fenômeno de “ghettoisação”, ou seja, parecem cada vez mais aos ghettos dos Estados Unidos. A França não quer mais isso.

curso de sociologia

E, você vai me perguntar: E o que eles fazem para mudar isso?

Um minuto, te explico!

Primeiro, é importante saber que existem alojamentos sociais. Se você tem pouco dinheiro, você vai ter um aluguel que se adapta à sua condição financeira. Dependendo do quanto você ganha, você vai pagar o aluguel de um apartamento alugado por um locador social. Os locadores sociais têm apartamentos não somente nas periferias. O problema é que esses apartamentos sociais são construídos ao lado e isso gera bairros pobres.

Para mudar isso, a França está desconstruindo os prédios antigos, para construir novos. Nesses novos, terá a metade de pessoas sem condições e a metade de pessoas com condições.

Eu trabalho na França num bairro em Bordeaux onde os prédios foram construídos em 1959. No prédio que vão destruir, há cada vez mais a presença de humidade. E, para se ter maior mistura social, indivíduos com condições vão integrar o bairro que é ainda muito pobre.

Meu trabalho é encontrar apartamentos para as famílias que estão morando no prédio que será destruído no futuro e acompanhar socialmente essas famílias.

Espero que você tenha entendido meu novo trabalho! Caso você tenha perguntas a respeito, terei prazer em respondê-las abaixo!

curso online de sociologia

Até breve!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Você gostou deste artigo?
Receba as novidades mais quentes sobre Sociologia em seu email! É GRATUITO.

Sobre Léa Mougeolle

Me chamo Léa Mougeolle e sou uma socióloga francesa que adora escrever e estudar sobre o Brasil. Me graduei na universidade de Bordeaux e finalizei meu mestrado em Paris, na universidade La Sorbonne Nouvelle. É um prazer poder compartilhar conhecimento com você!

  • Sérgio Mattos

    Muito bonito sua contribuição para a sociedade. A maioria das pessoas se apropriam do conhecimento visando somente seu bem próprio. É muito bonito ver pessoas que não são assim como você. Não sabia que as favelas na França se chamam “cité”, embora a pobreza exista em todo mundo. Na França é bem melhor do que no Brasil. Sinto-me feliz por morar no Brasil comparando com a Africa, mas me sinto desprivilegiado em relação aos europeus.

  • Isabelly Cabral

    Falando de uma perspectiva prática, no Brasil ricos e pobres são separados mais do que por desigualdades sociais, mas por uma territorialidade tola de pertencimento das chamadas “áreas nobres” das cidades aos de classe alta, onde é impossível financeiramente falando, um pobre ter condições de morar e se manter, devido ao alto custo de vida, você não acha que essa proposta francesa de separar os “ghettos” de certa forma dificulta a vida de quem antes morava neles? E o que atrai as pessoas com condições de morar em bairros melhores, a morar em locais como os ghettos?
    Por fim, gostaria de parabenizá-la pelo projeto, realmente é admirável a iniciativa, e espero que dê certo.
    Bonne Chance 🙂

  • Deyvisson Felipe Batista Rocha

    Olá Lea, muito interessante ler um pouco sobre a sua pesquisa. Sou graduado em ciências sociais o meu trabalho de conclusão do curso foi na área da sociologia rural. Enfim, creio que é consenso que a formação das favelas no país tem uma ligação íntima com o êxodo rural causado por uma política de abrir espaço para o latifúndio (chamado atualmente de agronegócio) no que chamam de modernização conservadora levada a cabo no período militar. Mas, o que me leva a contactá-la é o fato de eu estar interessado em ir para a França fazer um mestrado, pois a minha companheira está quase certa de fazer o doutorado na Escola de Altos Estudos. É muito provável, pela nossa condição financeira, que necessitaremos deste programa de habilitação do governo Francês para nos estabecermos aí. E, cá para nós, ao menos no seu relato é perceptível que está política de habitação aí funciona muito melhor que no Brasil.

  • Welington Carvalho

    Todos nós sabemos que a causa da exclusão sócio espacial está intimamente ligada à construção de dominação sobre o dominador e que, por mais que a gente critique esse modo de produção capitalista, as coisas continuaram como está. A função propriamente dita de um sociólogo seria pesquisar e desenvolver soluções para esse efeito colateral gerado pela má distribuição de riquezas. O mundo precisa mais atiude, por isso, quero te parabenizar ” Léia” pelo seu trabalho. Sucessos.
    sou graduado em sociologia.