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Desejar, comprar, possuir, frustrar-se e novamente desejar são procedimentos sucessivos. Entenda, é um ciclo. Todavia, a cada novo processo cíclico, a velocidade é ampliada.
Portanto, é também um potencializador que multiplica a intensidade e a fragilidade dos desejos, emoções e das relações. Graças a isso, a qualidade da vida pessoal, profissional ou das relações interpessoais dá lugar a quantidade. Seja de bens, cargos ou amigos. O critério para a felicidade, partindo deste princípio seria a quantificação da vida e não mais a qualificação.
Nova perspectiva consumista e a sucessão necessitária
O consumismo deixou de estar presente apenas na obtenção compulsória de produtos e bens. O tempo, relações, sentimentos e conquistas estão inseridos na nova perspectiva consumista. Assim, a vida social baseia-se nas necessidades sucessivas.
Siga os dois exemplos.
Primeiro, uma pessoa que troca de smartphone a cada ano e ao fim de três anos possui três smartphones. A sua necessidade e o motivo pela compra não é o uso profissional para um, pessoal para outro e emergencial ao terceiro. Mas sim, a vontade incessante de ter, o desejo de que o novo produto detenha novas tecnologias e lhe promova maior representação social. Essa necessidade sucessiva mostra-se constante de forma que o motivo por ter obtido os três é meramente o mesmo.
Segundo, o ato de fazer amizades. Para que esse ritual seja finalizado é preciso um bom diálogo ou ao menos empatia entre os sujeitos. No entanto, no momento em que a necessidade de fazer novos amigos é apenas o gosto pela popularidade, o ato passa a ser sucessivo e é repetido constantemente de forma supérflua e sem juízo de valor.
Dessa maneira, não mais importaria a utilidade real do smartphone. Não mais importaria a qualidade das relações. A relevância estaria imposta na quantidade assim como na célere vontade em multiplicar desordenadamente o que se tem.
Autoconsumo
Outro aspecto atual é o progressivo consumo do próprio eu.
Expressar os desejos, manifestar as preferências, ter um endereço eletrônico que indique todas as suas informações. Os indivíduos exploram a própria personalidade buscando um modelo que se venda eficiente e aclamado por toda a comunidade exterior. É árdua a aspiração por características inéditas sobre o corpo, comportamento e opinião e dessa forma trazendo para si novamente a atenção de todos ao redor.
Super felicidade
Termo que se remete à felicidade dissimulada. Estágio posterior ao autoconsumo. Falsa ilusão de uma identidade própria. Assim, sente-se completo consigo mesmo. Veste a personalidade criada por si através da busca por atributos midiáticos causadores da atenção externa. Tudo isso, ocasionado pela permanente sucessão de necessidades únicas.
Implosão identitária
Devido à volatilidade das relações, liquidez dos sentimentos e expansão do autoconsumo, o último estágio é a desconstrução do sujeito. Perdem-se opiniões sobre assuntos centrais, existem apenas espaços vazios e cópias incompletas. A inércia crítica começa a dominar os pensamentos. A identidade por um lugar, pessoa ou si próprio é expropriada. Foram tantas e sucessivas mudanças e mutações da personalidade que o produto final advém da incerteza, dúvida e da desconfiança de si. A completa alienação está imposta, a saída é continuar absorvendo caracteres alheios, portanto, permanecer na escuridão, sem uma imagem real da própria identidade.
Texto por,
Renan larenti
