O Estupro

Tempo de leitura: 6 minutos

Por causa do que aconteceu na semana passada, Marcelo Matte e eu (Léa Mougeolle) decidimos escrever um artigo sobre este assunto (estupro). Infelizmente, não temos soluções para terminar com este ato. Porém, vamos pôr em frente algumas perguntas que merecem ser tratadas.

– Definição do estupro

O estupro é um ato não consensual do sexo, imposto por meio da violência. As vítimas são principalmente as mulheres. Os poucos homens que são vítimas de estupro têm vergonha de contar. Então, sempre teremos que ter cuidado com as estatísticas relativas aos estupros. Na maioria das vezes, o estuprador conhece a vítima. Existem 5 tipos de estupro:  Primeiro, os estupros dentro da familia, ou seja, o incesto. Segundo, os estupros dentro dos casais. Depois, os estupros coletivos. Também, tem os estupros onde o estuprador é desconhecido. Enfim, os estupros impostos por amigos ou pessoas que a vítima conhece.

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– Comportamento desviante

O estuprador tem um comportamento desviante. Na verdade, este comportamento não corresponde às normas e valores sociais valorizadas na sociedade. Respeitar, não drogar, não violentar e não estuprar um indivíduo são valores e normas valorizadas na sociedade. Então, a maioria dos indivíduos integrou e respeita esse sistema. Porém, existem alguns “outsiders” (Becker) ou indivíduos desviantes que não respeitam isso. A pergunta é por qual razão? Por que 23 amigos decidem drogar, violentar e estuprar uma menina de 16 anos? Existem várias explicações de um estupro. Tem a vontade do prazer sexual, o estupro da vingança, o estupro patriarcal e o estupro de iniciação (primeira tentativa de relação sexual). De qualquer maneira, qualquer estupro tem que ser sancionando negativamente.

Vendo alguns comentários na Internet, prefiro lembrar que uma mulher tem o direito de se vestir do jeito que ela quiser. Vou dar um exemplo significativo, pelo menos para mim. Sendo francesa, jovem, quando caminhava no Rio de Janeiro, não colocava maquiagem para ter menos homens passando por mim falando “gostosa”. Por causa de alguns homens brasileiros, não me sinto livre no Brasil. Com certeza o estupro é um extremo de não respeito. Porém, acho que os homens deveriam pensar nos atos deles mesmo também… A mulher tem o direito de ser livre, da mesma maneira que o homem.

– O estupro E a sanção

As sanções sociais e o controle social permitem limitar os comportamentos desviantes na sociedade. As sanções sociais são realizadas pelo Estado, pelos amigos, pela familia, etc. Porém, no caso do estuprador da menina de 16 anos, os amigos dele não sancionaram esta ideia de estupro, pelo contrário. Além disso, li nas Mídias que o governo tardou para sancionar negativamente os jovens. Assim, parece que a sociedade não sancionou bastante este estupro. Porém, acho bom que a sociedade, pelo meio das redes sociais na Internet, lembre que é importante lutar contra a cultura do estupro.

– Cuidado com os preconceitos relativos aos favelados

Para terminar este artigo, queria lembrar que é importante ter cuidado com os preconceitos sobre os favelados. Este caso podia acontecer dentro ou fora da favela. O fato de ser favelado não tem relação com o estupro. Um favelado não é um estuprador! Os favelados sempre valorizaram a pergunta de respeito. (Na minha experiência, durante um ano, fui mais respeitada dentro da favela que fora dela). O fato de ir ao baile funk não tem relação com o estupro, também não. É fácil criticar… Mas, é mais difícil criticar com argumentos certos! Alguns teriam que pensar antes de escrever o que eles escrevem. Agora deixo Marcelo continuar e terminar este artigo…

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O fato ocorrido no dia 26 de Maio desse ano, onde uma jovem, na cidade do Rio de Janeiro, foi violentamente estuprada por 33 homens que tiveram a audácia de filmar e publicar o vídeo nas redes sociais, foi considerado, por muitos, uma barbárie, algo revoltante, porém, despertou um assunto que, no Brasil, sempre acaba voltando à tona quando o tema é o estupro. A culpabilização da vítima.

 

– Culpabilização da Vítima

“A culpa é delas”. Foi o que revelou um estudo realizado pelo IPEA com relação ao estupro. 58,8% dos entrevistados responderam que o comportamento feminino influencia estupros. Respostas como “se as mulheres soubessem como se comportar haveria menos estupros”, e até frases como “mulheres que mostram o corpo demais merecem ser atacadas” surgiram na análise. Após, foi verificado que o número era menor, que houve um erro na contagem dos números, porém, as frases citadas acima faziam sim parte das respostas dadas pelos entrevistados.

Isso demonstra algo preocupante, o fato de que muitos consideram que a vítima é a culpada pelo estupro sofrido por ela. Um exemplo é o fato de muitas mulheres atacadas terem sua vida pregressa pesquisada, para assim saber se elas “pediram ou não” para serem violentadas.

Como foi relatado por Léa Mougeolle, houve uma grande mobilização nas redes sociais a respeito do assunto, surgindo diferentes opiniões, alguns solidarizando-se com a vítima, outros demonstrando uma inversão de valores considerando ela a responsável pelo ocorrido, e outros defendendo que escrever qualquer coisa nas redes sociais não colabora em nada com a discussão.

 

– O debate nas redes sociais

Com relação ao ato criminoso ocorrido, é estranho o fato de que ainda no século 21 as mulheres sofram não só esse tipo de violência como ainda tenham que lidar com comentários como “se ele estivesse em casa isso não ocorreria”, ou “se ela estivesse trabalhando isso não ocorreria”. Vale lembrar que no estupro contra a mulher ela é a VÍTIMA.

Nas redes sociais foi fácil verificar que muitos consideraram que escrever sobre o estupro não colabora em nada com a luta contra a violência. Porém, também foi fácil verificar que muitos dos que consideraram que escrever sobre o fato não ajuda em nada, colocaram as cores da bandeira da França na sua foto de perfil após os ataques terroristas ao Charlie Hebdo e outros pontos de Paris.

A pergunta que fica aos críticos é: Se escrever em solidariedade à jovem estuprada não ajuda em nada na luta contra a violência, colocar as cores da França em sua foto de perfil contribui exatamente com o quê na luta contra o terrorismo?

Essa é mais uma demonstração de que muitos ainda possuem dificuldades em respeitar opiniões contrárias. Vale ressaltar que as pessoas têm o direito de se manifestar, e que o respeito à uma opinião contrária é o pilar para qualquer tipo de debate.

O fato ocorrido com a jovem por si só foi traumático, o que se estranha na sociedade atual, é o fato de que traumáticos também podem ser considerados os comentários a respeito do assunto. A culpabilização da vítima é algo que colabora com a impunidade, e demonstra que o machismo ainda é algo presente no mundo contemporâneo.

 

           

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Léa Mougeolle & Marcelo Matte

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Sobre Léa Mougeolle

Me chamo Léa Mougeolle e sou uma socióloga francesa que adora escrever e estudar sobre o Brasil. Me graduei na universidade de Bordeaux e finalizei meu mestrado em Paris, na universidade La Sorbonne Nouvelle. É um prazer poder compartilhar conhecimento com você!