Moradores da favela, entre polícia e traficantes

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Ontem, voltando da universidade, recebi mensagens no meu celular. Alguns amigos falando que o Bope entrou na favela Cantagalo. Outros, que o consulado americano deu alerta para não entrar em nenhuma favela, mesmo a pacificada, por haver perigo e possibilidade de tiroteio. As notícias falam dos “gringos”, da polícia, dos traficantes…

Quando a gente escuta isso ou outras notícias nas Mídias, parece que, na favela, existem somente 2 atores sociais: a policia e os traficantes de droga. Porém, esquecemos a maior parte da favela, ou seja, os moradores que não estão envolvidos no trafico de droga.

policia-favela-sociologiaEntão, na favela, os 3 atores sociais principais são os moradores, a policia e os traficantes.

– Os traficantes de droga. Nas favelas, eles têm duas fases: A fase paternalista, do protetor e a fase violenta que intimida o indivíduo. De maneira geral, os traficantes não têm mais de vinte e cinco anos. Os traficantes procuram proteger e dominar o território. Por isso, eles são os autores da violência e do crime e, ao mesmo tempo, as vítimas deste contexto criado por eles. Mais velhos, eles ficam presos, mortos ou desistem do caminho de traficar drogas. Eles integram o tráfico durante a adolescência e têm, cada vez mais jovens, um posto com responsabilidades. Durante a socialização primaria, as instâncias de socialização, tais como a familia e a escola não tiveram um papel suficiente para poder levar o jovem fora do caminho do tráfico de droga. Sendo sociólogos, sabemos que, se o indivíduo se torna traficante, não é porque é “naturalmente” uma pessoa ruim. Porém, porque a sociedade inteira não permitiu a este indivíduo ter uma educação e a capacidade de ganhar dinheiro e um status, o valorizando-o de outra maneira, que não seja pelo tráfico de droga.

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– Segundo, na favela, tem o mundo dos policiais, representantes do Estado, é um grupo de atores usando da violência através de operações imprevisíveis a fim de capturar os traficantes nas favelas. Segundo Max Weber, só a polícia apresenta o poder legitimo, legal e racional. A polícia procura diminuir a desordem social.

– O terceiro grupo corresponde aos moradores de favela que não estão envolvidos com o tráfico de droga. Porém, mesmo assim, este grupo de indivíduo é vítima da violência (em diferentes níveis).

à  Primeiro, eles têm de aguentar a violência física. Por exemplo, esta violência física acontece durante os confrontos entre polícia e traficantes.  Então, os moradores se encontram em meio à lei do tráfico e a lei do Estado.

Imagine você, não envolvida com o tráfico de droga, só querendo morar em paz na favela, um lugar onde a policia chega para capturar os traficantes. Se você estivesse fora da favela, mas  soubesse que iria acontecer confrontos entre policiais e traficantes, você se perguntaria: “Será que minha mãe, minha irmã, meu filho, meu amigo … serão vítimas de balas perdidas? “ As Mídias não falam muito dessa realidade. Além disso, principalmente nas Mídias, quanto mais a polícia usa a violência, mais parece que tem o controle sobre a sociedade. Usar a violência parece ser um sucesso no processo da redução do tráfico.

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Os moradores têm medo destas invasões e gostariam que fossem atores respeitados e protegidos. Segundo Marcus Cardoso, eles gostariam de ter o direito de receber respeito e “preocupação com suas vidas e sua segurança”

 

  • Também, existe a violência causada pelos preconceitos. Na verdade, o fato de ser um morador de favela gera uma imagem de criminoso. Este estereotipo é ainda mais forte pelos jovens favelados. Não posso esquecer que uma menina de 18 anos falou para mim que as pessoas tinham medo dela. Ser favelado é um crime? Morar numa favela faz de você um criminoso? Já diza Howard S. Becker: “Os moradores são vítimas da “etiqueta social””.

 

 

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Sobre Léa Mougeolle

Me chamo Léa Mougeolle e sou uma socióloga francesa que adora escrever e estudar sobre o Brasil. Me graduei na universidade de Bordeaux e finalizei meu mestrado em Paris, na universidade La Sorbonne Nouvelle. É um prazer poder compartilhar conhecimento com você!